Quando o
despertador tocou, eu estava animada pela 1º vez para ir para a escola.
Me arrumei o
mais rápido que pude, peguei uma maça na cozinha e fui para a parada do ônibus.
Nem me importei com os olhares voltados para mim. Cheguei na escola e ele não
estava lá, sentei em meu lugar, os alunos foram chegando, menos ele, me senti
uma idiota por ficar tão impaciente, quando eu já estava perdendo as esperanças
de que ele viria na aula, ele entrou na sala e foi direto em minha direção.
- Oi amiga. – A
garota que sentava ao meu lado, ficou olhando, assustada quando ele parou ao
meu lado e me deu oi.
- Oi amigo,
como você tá? – Perguntei sorrindo para ele.
- Bem e você? –
Ele também respondeu sorrindo.
- Também.
O professor de
matemática chegou.
- Na hora do
recreio se você quiser pode ficar comigo, com o Thomas, com a Ester e com o Lucas,
são meus amigos, são meio doidos, mas acho que você vai gostar deles. – Ele
falou apontando pra um grupo de três pessoas do outro lado da sala.
- Está bem.
- Oliver
sente-se no seu lugar. – Ordenou o professor de matemática.
Oliver obedeceu
imediatamente, aquele professor me dava medo, quando sentou em seu lugar olhou
para mim sorrindo. Percebi que a garota ao meu lado ainda olhava para mim com
curiosidade, tentando entender porque Oliver veio falar comigo. Como havia
gritado com ela no primeiro dia de aula e não passei uma boa impressão resolvi
me desculpar.
- Seu nome é
Lua né? – Perguntei.
- Sim. – Ela
respondeu tímida.
- Desculpa
aquele dia eu ter gritado com você, eu não pretendia ser tão estúpida com você.
– Ela ficou olhando para mim, parecia tentar decifrar alguma coisa.
- Tudo bem.
- Podemos ser
amigas, o que acha?
- Claro
podemos. – Ela sorriu. – Você morava aonde antes de vim pra cá?
- Em Marvin.
- Vocês duas
ai, fiquem quietas. – Falou o professor de matemática apontando para nós.
- Ele é um
chato né. – Falei sussurrando.
- Sim he.he.he.he.
– Ela riu baixo.
Quando tocou o sinal para o recreio fiquei
animada.
- Lua, você
fica com quem na hora do recreio?
- Com ninguém,
minha melhor amiga Joyce foi embora há algumas semanas.
- Então porque
você não vem com a gente?
Ela olhou para
trás de mim, Oliver estava vindo.
- Ola meninas.
- Ola. –
Respondemos juntas.
- E então Lua
vem com a gente? – Perguntei.
- Sim.
- Então vamos
logo porque o recreio é curto. – Falou Oliver empurrando nós duas. Nós rimos.
Quando chegamos
no refeitório olhei para a mesa onde estavam os amigos de Oliver, um ruivo
gordinho devorava um bolo de chocolate e ao lado dele estavam uma garota loira,
tão linda que parecia aquelas modelos de capa de revista, ao lado dela um garoto
moreno a abraçava.
- Sentem
meninas. – Falou Oliver que se sentou ao lado do ruivo comilão. Lua sentou-se
ao lado de Oliver e eu ao lado dela.
- Oi aluna nova,
prazer sou Ester. – Disse a loira para mim.
- Oi, sou
Jéssica.
- Este daqui é
meu namorado Lucas – Falou olhando para o moreno abraçado a ela.
- Ola Jéssica,
o que está achando de Bela Rosa? – Perguntou Lucas.
- Estou
gostando, todos aqui são bem simpáticos. – Respondi.
O gordinho
ruivo que estava com um pedaço de bolo de chocolate acenou para mim.
- Ah aquele é o
Thomas, acho que ele está com a boca cheia de mais para conseguir se
apresentar. – Disse Oliver.
- Prazer
Thomas. – Falei, ele ainda estava com a boca cheia de mais para conseguir me
responder, então acenou com a mão que estava desocupada. Lua ficou quieta,
parecia tímida de mais, diferente daquela garota tagarela que eu tive que
mandar calar a boca no 1º dia de aula.
- Vocês já
conhecem a Lua não é? – Perguntei para todos na mesa.
- Conhecemos
ela da turma, mas ela nunca foi de muito papo. – Falou Ester.
- É que sou
tímida. – Disse Lua de cabeça baixa.
- Mas no
primeiro dia de aula, você não me pareceu tímida, não parou de falar um minuto.
– Ela deu de ombros e se encolheu.
- Você veio de
Marvin então Jéssica? – Perguntou Ester.
- Sim.
- Como é lá?
- Não é uma
cidade muito grande, é conhecida como a cidade das lanchonetes, você encontra
lanchonetes em cada esquina, eu morava na frente de uma, acho que é por isso
que meu pai é gordo. – Eu ri.
- Hum... Você
falou em lanchonete e me deu uma fome. – Finalmente o gordinho ruivo falou. –
Vou pegar mais um pedaço de bolo de chocolate.
- Você só pensa
em comer seu gorducho – Disse Lucas.
O gordinho
mostrou a língua para ele e ele levantou e beliscou as bochechas dele.
- Seus
crianções. – Disse Oliver.
Eu, Ester, Lua
e Oliver começamos a rir quando Lucas começou a correr atrás de Thomas para
pegar seu bolo de chocolate, o que não foi difícil, Thomas não conseguia correr
muito, quando Lucas pegou o bolo da mão de Thomas, ele parecia que ia chorar.
- Devolve! –
Reclamou Thomas.
- Você quer o
meu pedaço de bolo? Eu não to com fome – Falei para ele, que sorriu.
- Quero, quero.
– Ele parecia uma criança.
Peguei meu
prato com um pedaço de bolo de chocolate e entreguei para ele.
- Obrigado. –
Ele falou com a boca cheia.
- De nada. –
Falei sorrindo para ele, que estava vidrado no bolo.
- Não falei que
ele só pensa em comer, seu gorducho. – Falou Lucas.
- Eu também não
estou com fome, pode pegar meu pedaço de bolo também. –Disse Lua.
Thomas se
levantou e pegou o pedaço de bolo de Lua.
- Nossa Oliver,
suas amigas são de mais. – Disse Thomas com a boca cheia de novo.
Oliver olhou
para mim e sorriu.
Eu fiquei
observando Lua, ela não parava de olhar para Thomas, que estava devorando seu
pedaço de bolo, o olhar dela era de uma garotinha apaixonada, fiquei pensando
se ela estava apaixonada por ele, por isso estava tão tímida, mas olhando
aquele garoto ruivo e gorducho devorando aquele pedaço de bolo era meio difícil
de imaginar que aquela garota meiga, que usava vestidos com laços estivesse
apaixonada por ele.
Eu estava me
divertindo com as palhaçadas de Lucas, quando tocou o sinal de que o recreio
acabará. Todos nós ficamos infelizes.
- Mais uma aula
de matemática com aquele professor chato, quando eu for diretor desta escola
vou expulsar este professor daqui. – Zombou Lucas.
- Seu bobo. – Disse
Ester e logo depois deu um beijo nele.
- Vamos ir pra
sala, vocês sabem como o professor Wilson gosta de castigar quem chega atrasado
nas aulas dele. – Disse Oliver.
Nós nos
levantamos e fomos para a sala de aula, os outros alunos ficaram olhando para
nós, eu me senti estranha caminhando ao lado daquele grupo, eu me esquecerá de
como era bom ter amigos.
As horas
passaram rápido, eu e Lua fizemos um trabalho de matemática juntas, nós duas
tínhamos dificuldades para resolver os cálculos. O último período passou
rápido, como aquela manhã. Quando tocou o sinal de que a aula acabou, não senti
necessidade de ir para o lago e ficar sozinha mais uma vez, eu queria ir para
casa contar para Cristal sobre este dia na escola e das pessoas que conheci.
- Tchau
Jéssica. – Disse Lua, entrando em uma caminhonete azul.
- Tchau Lua.
Thomas passou
por mim apressado com Oliver ao seu lado.
- Tchau
Jéssica. – Disse Thomas.
- Tchau.
- Eu e o Thomas
vamos ir numa pizzaria, você não quer ir com nós? – Disse Oliver, entendi o
porquê Thomas estava tão apresado.
- Deixa pra
outro dia.
- Que tal
sábado? – Sugeriu ele.
- Hum...
Combinado. – Concordei.
- Vamos Oliver
to com fome. – Disse Thomas puxando Oliver pelo braço.
- Tchau
Jéssica.
- Tchau Oliver.
– Acenei.
Passaram-se
três semanas. E todos os dias na escola eu ficava com Oliver, Lua, Thomas,
Lucas e Ester na hora do recreio. Todos me divertiam muito. As brigas entre eu
e meu pai diminuíram nestas três semanas.
As coisas estavam calmas de mais em casa, era de se estranhar. .
Um dia depois
da escola cheguei em casa e meu pai não havia chegado do serviço ainda, peguei
Cristal que estava dormindo no canto da escada e comecei a brincar com ela
quando meu pai chegou.
- Oi pai. -
Murmurei
- Jéssica, a
dona de uma lanchonete ligou, ela falou que você pode começar a trabalhar
amanhã.
Eu quase esqueci
de que tinha deixado um currículo lá.
- Que ótimo
pai. – Suspirei feliz.
- Calma ai mocinha,
eu falei pra ela arranjar outra pessoa para trabalhar lá. – Falou ele
autoritário.
- Mas por quê? –
Perguntei sem entender.
- Por que você
não vai trabalhar lá e nem em lugar nenhum! Não vou deixar você trabalhar para
estragar sua vida bebendo, se você precisar de alguma coisa eu compro! – Ele
falou tão alto que qualquer um que passasse pela rua poderia escutar.
- Você não pode
me obrigar a não trabalhar! – Protestei.
- Posso sim sou
seu pai! -
- Eu quero
trabalhar. Você não vai me obrigar a não ir!
- Vou sim!
Subi as escadas
correndo e bati a porta de meu quarto.
- Jéssica! –
Meu pai gritou.
O ignorei, deitei
em minha cama e comecei a chorar. Era incrível como as palavras de meu pai
conseguiam me magoar tanto, naquele momento o que eu mais queria era ter minha
mãe ao meu lado, contar para ela como fora meu dia na escola, falar como eram
meus novos amigos e como eu ficava feliz quando estava ao lado de Oliver.
No silêncio do
meu quarto, olhei para uma pequena mesa próxima a janela e me lembrei de que eu
tinha um note book novinho, que ganhei de presente de aniversário de 15 anos do
meu pai, eu o usei poucas vezes, não tinha muita paciência para redes sócias.
Peguei o note book e comecei a ver fotos de minha mãe e eu. Era uma tortura ver
aquelas fotos e me lembrar de como a vida parecia perfeita quando minha mãe
estava viva, as lágrimas foram inevitáveis junto com as lembranças.
Eu estava certa
de que precisava de uma única coisa para que meus pensamentos que me
atormentavam cessassem. Comecei a revirar meu guarda-roupa na esperança de
encontrar uma garrafa de vinho vazia ou um restinho de uísque. Encontrei uma
garrafa de vinho enrolada em um roupão velho de banho, liguei o rádio, queria
colocar o volume no máximo, mas sabia que isso atrairia meu pai, então deixei o
volume num tom que só quem estivesse dentro do quarto pudesse ouvir. Comecei a
beber o vinho, doce gosto familiar. Quando a garrafa de vinho acabou senti
necessidade de beber mais, eu precisava de mais. Peguei minha carteira e
encontrei apenas uma moeda de 50 centavos. Eu precisava tanto de mais uma
garrafa de vinho que fui até o quarto de meu pai à procura de dinheiro, mas
antes fui até a garagem verificar se o táxi estava lá, como imaginava ele já
havia saído para trabalhar, revirei as gavetas de seu guarda-roupa e encontrei
50 reais e algumas notas de 10, peguei apenas os 50 reais fui até meu quarto,
coloquei meu casaco preto, peguei minha mochila e saí.
Eu sabia muito
bem onde eu queria ir, fui até o bar e comprei duas garrafas de vinho e uma
carteira de cigarros depois fui até o lago. Comecei a beber o vinho e fumar os
cigarros, eu estava com fome, mas naquele momento o vinho serviria como
alimento para mim. Acabei pegando no sono, como na noite em que conheci Oliver,
me acordei quando já era noite, coloquei a mão no bolso tentando encontrar meu
celular, mas não encontrei, tentei me lembrar se tinha deixado em casa, mas não
conseguia. Comecei a me sentir mal e enjoada, vomitei. Um vômito roxo. Comecei
a caminhar, com falta de equilíbrio, eu ainda estava enjoada e não conseguia me
equilibrar muito bem, a escuridão da noite não ajudava nada para eu enxergar
meu caminho, meus passos eram desajeitados, quando fui atravessar a rua, só
consegui enxergar um feche de luz muito próximo, logo depois um apagão.
Quando abri os
olhos, estava numa cama de hospital. Meu pai estava dormindo em um sofá ao meu
lado e em duas cadeiras mais distantes visualizei Oliver e Thomas sentados,
Oliver lia um livro enquanto Thomas devorava um pacote de Doritos.
Tentei me
levantar, mas minhas pernas doíam e meu braço esquerdo estava enfaixado.
- O que
aconteceu? – Perguntei com a voz fraca.
Oliver levantou
da cadeira e chegou perto de mim.
- Você foi
atropelada ontem à noite. – Disse-me
ele.
Fiquei tentando
me lembrar do que tinha acontecido, mas minha memória era fraca de mais.
- Há quanto
tempo vocês estão aqui?
- Eu e Thomas
viemos para cá logo depois da aula.
- E como você
soube que eu estava aqui?
- Você foi
atropelada bem em frente a minha casa. Fui eu quem foi até sua casa avisar seu
pai.
- Ah quanto
tempo ele está dormindo? – Perguntei olhando para meu pai, dormindo desajeitado
no sofá.
- Ele pegou no
sono faz pouco tempo. Quer me contar o que aconteceu?
- Agora não. – Sussurrei.
- Quer que eu
acorde seu pai?
- Não, ele deve
estar bem cansado e também não estou ansiosa para ouvir os sermões dele. O que
eu quero mesmo é sair desta cama. – Falei tentando me levantar da cama de novo.
- Mocinha fique
quieta ai, você foi atropelada.
- Está bem
Doutor Oliver. – Tentei ser irônica.
- Jéssica minha
filha, você está bem? – Meu pai acordou assustado.
- Estou pai,
sobrevivi. – Falei, esperando uma bronca.
- Jéssica ainda
bem que você está bem, fiquei tão preocupado. – Ele disse me abraçando com
cuidado. Nunca virá ele tão afetuoso comigo.
- Está bem pai,
pode me soltar estou bem. – Murmurei.
- Desculpe Jéssica.
- Pelo que?
- Por ser um
pai tão irresponsável.
Engoli em seco,
eu sabia que meu pai não era irresponsável, ele era só pai e eu acho que de certa
forma eu o culpava pela morte de minha mãe.
- Você não é um
pai irresponsável pai, você é só pai e está fazendo seu trabalho.
Ele me abraçou
de novo, por um longo tempo ficamos abraçados, o abraço dele fazia meus
ferimentos doerem, mas agüentei a dor para não magoá-lo. Quando ele decidiu me
soltar, olhei em volta do quarto e Oliver e Thomas não estavam mais lá.
- Eu preciso
trabalhar você vai ficar bem aqui sozinha?
- Sim pai pode
ir.
Neste momento
Oliver e Thomas entraram no quarto, Thomas ainda devorava um pacote de Doritos.
- Ah acho que
estes dois podem ficar aqui com você. – Meu pai falou olhando para Oliver e
Thomas.
- Não precisa,
eu vou ficar bem sozinha, aliás, estou em um hospital, qualquer coisa chamo
alguém.
- Imagina
Jéssica eu e Thomas podemos ficar aqui com você.
- Eu preciso ir
pra casa, minha mãe vai fazer pudim hoje. – Reclamou o gorducho do Thomas,
chupando os dedos sujos de Doritos.
- Eu fico aqui
com você. – Insistiu Oliver.
- Tchau
Jéssica, qualquer coisa liga pra mim. – Meu pai falou saindo do quarto.
- Vou nessa. –
Thomas saiu logo atrás de meu pai.
- Tem certeza
de que quer ficar? Eu costumo ser chata quando estou numa cama de hospital.
- Eu agüento.
Mas então quer me contar o que aconteceu, estou realmente querendo saber.
- Eu briguei
com meu pai, bebi muito vinho e acabei dormindo mais uma vez à beira do lago,
só que desta vez você não apareceu pra me levar pra casa, então tentei ir, mas
mal conseguia manter o equilíbrio só lembro de estar atravessando a rua e ver uma
luz forte em minha direção e depois acordei aqui.
- Você podia
ter morrido Jéssica. – As palavras dele me fizeram estremecer.
- Talvez fosse
melhor se eu tivesse morrido. -
- Porque está
dizendo isso?
- Eu perdi a
vontade de viver quando minha mãe morreu.
- Eu sei que
deve ter sido horrível perder sua mãe, mas eu aposto que onde ela estiver agora
ela vai te proteger.
- Ela morreu
como vai me proteger? – Minha pergunta era retórica, mas mesmo assim ele
respondeu.
- O espírito
dela vai. – Afirmou ele.
- Ah, por
favor, não venha me falar sobre espírito, Deus, céu e inferno, isso não existe!
– Protestei num tom de voz alto, mas logo depois me arrependi, Oliver não
merecia que eu falasse daquele jeito com ele.
- Me desculpa,
só tava querendo fazer você se sentir melhor. – Falou arrependido.
- Eu que peço
desculpas, não deveria falar assim com você. – Sussurrei.
- Tudo bem. Mas
me diz por que você não acredita em Deus? – Perguntou ele.
- Porque eu
tenho meus motivos. – Respondi.
- Eu entendo
você. Se quiser que eu vá embora eu vou. – murmurou.
Fiquei em
silêncio, eu não queria que ele fosse embora, a companhia dele era ótima e eu
gostava de estar com ele.
- Não. Eu quero
que você fique gosto da sua companhia.
- Que bom ouvir
isso.
O cheiro do hospital
e a comida que me deram para comer, me enjoava, mas a companhia de Oliver me
fazia querer ficar mais tempo ali, só para pode ficar ao seu lado. O dia passou
rápido, eu e Oliver jogamos cartas, contamos piadas e histórias, apesar de eu
estar deitada naquela cama de hospital, com o braço quebrado e o corpo cheio de
aranhões aquele estava sendo um dos melhores dias da minha vida.
- Já são 8
horas, daqui a pouco seu pai deve estar chegando. Eu tenho que ir pra casa se
não minha mãe vai ficar preocupada comigo. Boa noite. – Falou ele me dando um
beijo na testa.
- Boa noite,
tome cuidado ao ir para casa. – Fiquei olhando ele se afastar e ir embora.
Não demorou
muito tempo para meu pai chegar, insisti para que ele fosse dormir em casa, mas
ele era teimoso igual a mim e dormiu mais uma vez no sofá ao meu lado. Eu não
conseguia dormir, fiquei pensando em Oliver, em como eu me sentia feliz ao seu
lado, senti muita vontade de estar com ele de novo. Eu sabia que eu estava
sentindo algo extremamente forte por Oliver e que eu não queria sentir aquilo.
Minha filosofia de vida “Se você ama você sofre.” E eu não queria sofrer mais
uma vez.
Eu e Oliver
caminhávamos à beira do lago de mãos dadas. Minha mãe nos esperava encostada em
uma árvore, ela estava com um vestido de noiva, todo sujo. Quando mais perto de
minha mãe eu e Oliver tentávamos chegar mais longe ela parecia estar. De
repente aquele cenário mudou, minha mãe e Oliver sumiram como se fossem fumaça,
eu estava sozinha à beira do lago, minhas mãos estavam cobertas de sangue, fui
lavá-las no lago e minha mãe e Oliver estavam lá dentro, se afogando, eu
tentava salvá-los, mas era como se a água do lago estivesse congelada. Acordei
assustada. – minhas pálpebras se arregalando, meu braço doía, devo ter batido
durante a noite.
Foi só um sonho, disse a mim mesma.
Olhei para o lado meu pai cochilava no sofá. Fiquei olhando para o teto branco
do hospital, me senti angustiada de estar ali. Até meu quarto todo bagunçado
era melhor do que aquele quarto de hospital. Uma enfermeira entrou no quarto.
- Precisa de alguma coisa? – Perguntou
ela.
- Preciso ir embora. – Murmurei.
- Eu acho que você já pode ir embora
hoje, vou chamar o doutor David. -
Suspirei
aliviada.
- Dormiu bem
Jéssica? – Meu pai acordou.
- Sim pai. –
Menti.
- Está com
fome? – Perguntou.
- Sim –
Assenti.
- Vou ir buscar
algo para nós comer. Já volto. – Assenti mais uma vez.
Alguns minutos
depois que meu pai saiu o doutor David chegou.
- Como está se
sentindo Jéssica? – Perguntou examinando meu braço enfaixado.
- Bem. – Não
queria falar que meu braço estava doendo, quanto mais rápido eu saísse daquele
hospital, melhor.
- Você já pode
ir para casa hoje. Só vai ter que tomar muito cuidado com este braço. Onde está
seu pai?
- Foi comprar
alguma coisa para comer. – Meu pai apareceu na porta.
- Estávamos
falando do senhor. A Jéssica pode ir para casa hoje. O senhor pode me
acompanhar por gentileza.
- Claro. – Meu
pai respondeu me entregando um copo de café e um pastel.
Os dois saíram
do quarto. Levantei da cama com dificuldade, meus ferimentos incomodavam.
Tentei me vestir apenas com uma mão. Mas não consegui, o braço quebrado doía
muito quando tentava meche-lo. Por sorte a enfermeira chegou bem a tempo de me
ajudar. Fiquei constrangida de alguém estar ajudando a me vestir. Sentei na
cama e comi o pastel e tomei o café.
Fui para casa
no táxi do meu pai. Eu queria ir à
escola, ver Oliver e meus novos amigos, mas eu sabia que meu pai não deixaria e
também meu braço direito estava quebrado, justo o braço que eu usava para
escrever, minha letra já não era muito bonita, escrevendo com a mão esquerda
minha letra ficaria ilegível. Antes de irmos para casa meu pai parou numa
farmácia e comprou alguns comprimidos para mim.
Senti um alivio
instantâneo ao chegar em casa.
Eu odiava o cheiro de hospital.
Subi para meu
quarto me apoiando com a mão que estava boa no corrimão da escada. Deitei em
minha cama. Familiar cheiro de bagunça. Engoli um analgésico e adormeci. Quando
me acordei já estava escuro. Levantei da cama meio sonolenta e desci as escadas
me apoiando novamente no corrimão com a mão boa. Quando entrei na sala tive uma
enorme surpresa, Oliver estava sentado no sofá, ao lado de meu pai.
- Até que enfim
acordou dorminhoca. – Oliver disse sarcástico.
- Dormir numa
cama de hospital não é muito agradável. O que você está fazendo aqui? –
Perguntei.
Meu pai olhou
para mim e logo em seguida para Oliver, entendi aquele olhar como um aviso,
logo em seguida levantou e foi para a cozinha.
- Vim ver como
você está. – Oliver respondeu.
- Estou bem, só
o braço quebrado está me incomodando um pouco.
- Na verdade
vim ver como você está e vim cobrar uma ida a pizzaria.
- Caramba,
esqueci totalmente que a gente tinha combinado de ir à pizzaria.
- Posso vim te
pegar amanhã de noite?
- Pode. – Concordei olhando em direção a cozinha para me
certificar que meu pai não iria interferir na minha resposta.
- Então está
combinado, às 19h30min esteja pronta.
- Vou estar
pronta e com o braço enfaixado. – Sorri.
Oliver sorriu e
levantou do sofá logo em seguida.
- Até amanhã. – Falou ele indo em direção à
porta.
- Espera, eu te
levo até a porta. – murmurei.
Enquanto
caminhávamos até a porta meu pai surgiu da porta da cozinha e ficou nos
observando.
- Boa noite
Oliver.
- Boa noite
Jéssica.
Eu parecia uma
boba, apaixonada olhando Oliver se afastar e entrar em seu carro. Fiquei tão
distraída imóvel na porta que tomei um susto quando meu pai surgiu atrás de
mim.
- Então Jéssica
vocês estão namorando?
Engoli em seco.
- Não... é claro
que não pai, somos só amigos. – Gaguejei.
- Ele parece
gostar de você. Se preocupa muito em saber se você está bem. – grunhiu ele.
- Para de falar
bobagem pai. Vou ir para meu quarto. – Suspirei.
- Ele parece
ser um ótimo garoto Jéssica. –Eu sabia que meu pai não desistiria.
- Somos só
amigos pai. – Protestei.
- Conversei com
ele antes e parece que ele não quer só sua amizade.
- Vou ir para
meu quarto. Ah pai Oliver vai vim me buscar amanhã para irmos numa pizzaria. –
Eu nem precisaria pedir permissão de meu pai para sair com Oliver, pelo jeito
ele gostou mais dele do que eu.
- Está bem.
Olha Jéssica ele parece ser um menino muito bom, mas se ele tentar alguma coisa
leve seu spray de pimenta...
- Já entendi
pai. – O interronpi. Subi para meu quarto. Eu não estava nem um pouco com sono.
Fiquei pensando na pergunta que meu pai me fez “...Vocês estão namorando?”, eu
sabia que meu sentimento por Oliver estava indo além da amizade. Ele se
preocupava comigo, sempre queria saber se eu estava bem, com ele eu conseguia
conversar abertamente, me sentia segura, eu confiava nele. Oliver era o único
que me fazia sentir feliz, como minha mãe fazia. Eu estava ansiosa para que o
amanhã chegasse.
Eu não tinha
nada para vestir. Só os mesmos moletons e as mesmas calças jeans velhas. Era só
uma ida a pizzaria, mas eu queria me vestir bem. Oliver sempre estava bem
vestido e cheiroso, era até constrangedor eu ao lado dele, com minhas roupas
velhas e meu cabelo bagunçado e agora com um braço enfaixado. Entrei em
desespero revirando meu guarda-roupa com a mão boa, procurando algo para
vestir. Acabei colocando uma calça jeans qualquer, uma camiseta do Nirvana e
meu all star sujo, penteei meu cabelo e fiquei esperando impaciente Oliver, não
eram nem 19h e 15 min quando ouvi alguém bater na porta. Olhei para Oliver, seu
cabelo comprido até a nuca, bem penteado, seus olhos verdes brilhavam, eu
queria ver qual roupa ele vestia, mas não conseguia desviar o olhar de seus
olhos.
- Está pronta?
Cheguei um pouco mais cedo.
- Estou. Eu
estava prevendo que você viria mais cedo e também me arrumei mais cedo. – Ele
olhou para minha roupa.
- Gostei da
camiseta. – Nós rimos.
Oliver era
mesmo muito gentil, um legitimo cavalheiro, abriu a porta do carro para mim. No
caminho para a pizzaria Oliver começou a me contar coisas sobre ele, já que
toda vez que nos encontrávamos só quem falava sobre sua vida era eu. Contou que
seu pai era um policial aposentado e que sua mãe era a melhor costureira da
cidade. Ficamos conversando durante todo o percurso. Quando eu estava com
Oliver o tempo parecia passar mais rápido. Quando chegamos à pizzaria Oliver
manteve o cavalheirismo e abriu a porta do carro para eu sair. A pizzaria
estava cheia. Sentamos num canto perto da janela.
- Vamos pedir
pizza do que? – Perguntou Oliver olhando o cardápio.
- Meia 4
queijos e meia calabresa pode ser?
- Claro, são
meus sabores de pizza preferidos.
- Os meus
também. – Rimos juntos.
Oliver chamou o
garçom e fez o pedido. Não demorou muito até para a pizza chegar.
- A pizza daqui
é muito boa. – Falei com a boca cheia, o que me fez lembrar de Thomas.
- É mesmo. – concordou
ele – Jéssica eu quero te falar uma coisa.
Olhei para ele
assustada. – Pode falar. –
- Bom, nem sei
direito como dizer isso... Desde o dia em que conheci você, à beira daquele
lago, dormindo no chão eu sabia que queria ser seu amigo, você é diferente de
todas as garotas que já conheci. Você não se ilude com as coisas, é sincera e ao
mesmo tempo em que você é uma garota impaciente, que não quer amigos, você é
uma garota meiga que senti falta de sua mãe... – Eu não sabia aonde ele queria
chegar. – Cada vez mais que eu ia te conhecendo eu ia me sentindo extremamente
ligado a você. Sabe aquela coisa de destino? Então é... acho que isso se
encaixa na nossa história. Jéssica eu to apaixonado por você. – Fiquei em
estado de choque, não conseguia achar palavras, as palavras certas.
- Eu... Não sei
o que dizer. - Gaguejei.
- Olha vamos
comer primeiro e depois procuramos um lugar mais calmo para conversar. –Eu
assenti .
Enquanto eu
comia, não conseguia parar de pensar nas palavras de Oliver, ele estava
apaixonado por mim? Era difícil de acreditar que alguém pudesse se apaixonar
por mim. Eu também estava loucamente apaixonada por ele. Mas não sabia até onde
eu poderia ir. Fiquei tão distraída em meus pensamentos que esqueci da pizza.
- Você vai
comer mais? – Oliver perguntou para mim olhando para meu prato, com um pedaço
de pizza intacto.
- Não. –
Respondi.
- Então vamos?
Me levantei e
seguimos para o carro.
- Aonde você
quer ir? - Perguntei enquanto ele segurava a porta do carro para eu entrar.
- Naquele lago.
– Seguimos para o lago em silêncio.
Sentamos a
beira do lago. Meu coração e minha respiração estavam acelerados, eu podia
ouvir meus batimentos. Fiquei ali sentada ao lado dele esperando que ele
começasse a falar. Por um longo tempo ficamos em silêncio, observando o lago
que reluzia a luz da lua. Acho que Oliver procurava as palavras em sua mente
para me dizer.
- Então, como
eu disse antes estou apaixonado por você Jéssica. Eu sinto que não posso mais
ficar longe de você.
O silêncio
voltou a invadir o ambiente. Ele esperava que eu falasse alguma coisa, mas eu
não sabia o que falar.
- Eu devo estar
assustando você... Me desculpe, eu só achava que deveria dizer o que estou
sentindo. – Falou sussurrando.
Finalmente
consegui falar.
- Eu... Acho
que também to... apaixo... nada por você. – Gaguejei, não sabia o jeito certo
de dizer aquilo.
Ele pegou meu
rosto com as mãos, olhou em meus olhos e foi se aproximando. Quando me dei
conta nossos lábios estavam se tocando, os movimentos de nossos lábios
encostados um no outro pareciam ter sido ensaiados, os braços dele envolvidos
em minha cintura, nossos corpos colados, meu coração parecia que ia explodir a
qualquer momento. Demorei a lembrar de que eu precisava respirar. Precisei
soltar meus lábios dos dele, estava sem fôlego. Depois de uma pequena pausa
nossos lábios voltaram a se tocar. Eu estava tão feliz nos braços dele que não
queria que aquele momento nunca acabasse. O céu estava lindamente estrelado, no
lago o reflexo da lua cheia. Caminhamos de mãos dadas em volta do lago – Como
no meu sonho - era só eu, ele, o lago e a lua, eu podia estar sonhando, tudo
àquilo era tão perfeito, como em contos de fadas e não era um sonho, pelos
menos eu estava torcendo para que não fosse. Eu queria ficar ali do lado dele
para sempre, ou sendo menos dramática, durante o resto da noite.
Às horas
passaram tão rápido, já era passada da meia noite, estranho meu pai não ter me
ligado preocupado, ainda mais depois do acidente. Oliver me levou para casa no
seu carro. Quando chegamos à frente de minha casa, ele me acompanhou até porta
e demos um beijo de despedida, como numa cena de filme romântico. Entrei em
casa e fiquei olhando ele ir embora. Meu pai já estava dormindo. Subi para meu
quarto, estava tão distraída que tropecei no tapete e caí, caí em cima do meu
braço quebrado.
- Aiii! – A dor
foi tanta que não consegui segurar o grito.
- O que
aconteceu Jéssica? – Meu pai apareceu na porta do quarto, meu grito o acordará.
- Eu tropecei e
caí encima do braço quebrado. – Gemi caída no chão.
Meu pai ajudou
a me levantar. Fiquei constrangida com aquela situação.
- Está doendo
muito? – Perguntou meu pai.
- Um pouco. –
Menti, a dor estava evidente em minha voz.
- Vou pegar seu
remédio na cozinha.
- Está bem.
Ele desceu as
escadas até a cozinha. Fiquei sentada em minha cama. Eu sentia a pulsação de
meu braço que doía.