Acordei
assustada, tive um pesadelo, minha mãe estava correndo atrás de mim em chamas,
este tipo de pesadelo estava se tornando constante. Levantei da cama e coloquei
meu casaco preto desbotado preferido que estava jogado em cima de algumas
caixas da mudança, peguei meu Mp4 e desci as escadas, meu pai já havia saído, supostamente
foi me matricular em alguma escola pois o táxi estava na garagem, então não foi
trabalhar. Quando fui até a cozinha vi um bilhete encima da mesa:
Jéssica
Deixei alguns sanduíches
prontos pra você na geladeira e dentro da garrafa térmica tem café quente, fui
procurar uma escola para te matricular.
Boa sorte. Espero
que consiga um emprego, já que é assim
que você quer, se
cuide.
Seu pai
Meu pai ser tão
carinhoso comigo não era um costume. Acho que finalmente ele estava
compreendendo como as coisas estavam sendo difíceis para mim.
Tomei o café,
comi um sanduíche, peguei minha mochila e alguns currículos e saí. A cidade me
pareceu bem tranqüila, meu maior medo era de me perder e ter que ligar para meu
pai ir me buscar, seria muito constrangedor.
Deixei meu currículo numa
lanchonete, numa loja de acessórios e num mercado.
Consegui deixar meu currículo
somente nestes três lugares, porém levei a manhã toda. Tive muita sorte de não
me perder, cheguei em casa e meu pai ainda não tinha chegado. Então me arrisquei
a fazer o almoço, meu pai era um ótimo cozinheiro, mas eu mal sabia fritar um
ovo.
Olhei dentro da geladeira que estava quase
vazia, peguei dois bifes fritei algumas batatinhas, quando estava arrumando a
mesa meu pai chegou.
- Hum. Que
cheirinho bom. – Falou ele olhando para o bife e as batatinhas fritas em cima
da mesa.
- Eu fiz o
máximo que eu pude, se tiver ruim de mais não precisa comer. – Dei um sorriso
amarelo.
Meu pai se
sentou à mesa, pegou um prato com um bife e serviu as batatinhas fritas, fiz o
mesmo logo em seguida.
- Está muito
bom Jéssica. – Ele realmente parecia ter gostado. Tenho que admitir estava bom
mesmo.
- Obrigado pai.
- Jéssica te
matriculei numa escola um pouco longe daqui, mas é a mais próxima que consegui
encontrar, mas você pode ir de ônibus, a escola entregou este passe livre que
você poderá usar. – Ele falou me entregando o passe livre.
Peguei o passe
livre e guardei no bolso.
- Está bem.
Quando começo a estudar? – Perguntei, mas já sabia a resposta, ele com certeza
iria querer que eu começasse amanhã mesmo.
- Amanhã.
6 Horas da
manhã:
-Triiimmm –
Tocou o despertador.
- Droga de
despertador! – Eu disse ao acordar com o som irritante do despertador tocando.
Coloquei meu
casaco preto desbotado preferido para ir para a escola, eu não tinha muitas
opções de roupas para vestir, prendi meu cabelo, coloquei meu all star velho e
sujo, peguei minha mochila e desci as escadas. Meu pai já havia saído para
trabalhar, mais uma vez deixou sanduíche e café para mim. Comi o mais devagar que
pude, eu realmente não estava ansiosa para o 1º dia na escola nova.
Peguei o ônibus
na esquina de casa, ao entrar no ônibus percebi vários olhares curiosos para
minha direção, evitei olhar para os donos daqueles olhares curiosos, segui para
o fundo do ônibus, não demorou muito até chegar na escola. Era uma escola
aparentemente pequena, era como qualquer escola, patricinhas mostrando suas
roupas novas fazendo com que as garotas mal vestidas morressem de inveja, os
“gostosões” malhados colocando medo nos magricelos, os intelectuais lendo seus
livros e assim por diante. Depois de uma longa caminhada pela escola,
finalmente encontrei onde era a sala do diretor. Bati na porta, eu estava
nervosa.
-Entre. – Uma
voz falou possivelmente a voz do diretor.
Entrei.
- Ah, você deve
ser Jéssica, seu pai te matriculou ontem não é?
Antes que eu
pudesse responder ele estendeu a mão para me cumprimentar.
- Prazer, sou o
diretor Willian Saimon.
- Prazer,
Jéssica Wanter – Tentei dar um sorriso simpático, mas acho que minha tentativa
não deu certo.
- Seu pai me
disse que moravam em Marvin, já tive uma vez lá é muito bonita a cidade, mas
você vai gostar de Bela Rosa, é uma cidade bem calma, quase não ocorrem
assaltos por aqui e as pessoas são bem hospitaleiras e simpáticas.
Concordei
balançando a cabeça.
- Bom é só
entregar este papel para seus professores – Falou ele me entregando um papel.
- Tenha uma boa
aula e seja bem vinda à escola São Diego.
- Obrigada. –
Sorri.
Sai da sala do
diretor e fui procurar minha turma, o corredor que antes estava cheio de
alunos, agora estava vazio.
Respirei fundo
antes de bater na porta da sala de aula, quando tomei coragem bati na porta,
uma professora gordinha de cabelos curtos e enrolados abriu.
- Ola. Aluna
nova? – Perguntou ela com uma voz suave, tão suave que parecia estar ligada no
volume mínimo.
- Sim sou
Jéssica. – Respondi.
- Entre
Jéssica, você pode se sentar ao lado de Lua. – Ela falou apontando para um
garota baixinha de cabelos lisos e curtos e com uma roupa que parecia de boneca,
cheia de laços, ela sorriu quando olhei pra ela. Caminhei com passos lentos até
a cadeira vazia ao lado dela, quando sentei olhei a minha volta, todos os
outros alunos olhavam pra mim, mas desviaram o olhar quando olhei para eles, me
encolhi sem graça.
- Oi sou Lua,
muito prazer. – Disse a garota baixinha sorridente ao meu lado.
- Oi, sou
Jéssica. – Falei sem nem olhar para ela.
As horas
passavam devagar, mal prestei atenção na aula, muito menos naquela garota
baixinha ao meu lado tentando puxar assunto.
Na hora do
recreio fiquei a maior parte do tempo sentada em um canto, onde não passava
quase ninguém, eu não queria conhecer os alunos hospitaleiros e simpáticos daquela escola, não mesmo.
Quando tocou o
sinal esperei os corredores esvaziarem para voltar para a sala. A garota
baixinha continuava insistindo em tentar fazer com que eu falasse com ela,
quando ela começou a contar sobre um dia em que ela se afogou, eu perdi a
paciência.
- Será que dá
pra você calar sua boca! Eu não quero saber sobre sua vida! – Falei tão alto
que todos olharam para mim, inclusive a professora que ignorou minha atitude.
Por um minuto
pensei que a garota tagarela ia chorar, pensei em pedir desculpas, mas não era
o tipo de atitude que eu queria demonstrar, então fiquei quieta no meu canto e
a garota fez o mesmo.
Quando acabou a
aula, não peguei o ônibus para ir pra casa, resolvi ir até um bar comprar algo
para beber. Depois de algumas voltas na cidade encontrei um bar.
- Quanto custa àquela
garrafa de uísque? – Falei apontando para uma garrafa de uísque para o homem
que estava no balcão.
- 25 Reais.
- Vou levar –
Peguei meus únicos 25 reais e entreguei para ele. Fiquei com medo de que ele
não me vendesse, mas ele pegou o dinheiro e me entregou a garrafa de uísque.
Liguei para meu
pai e avisei que iria sair por ai conhecer a cidade, não queria correr o risco de
ele colocar a policia atrás de mim. Depois de um tempo caminhando pela cidade
encontrei um lago, suficientemente escondido para que ninguém me incomodasse.
Coloquei meus fones de ouvido e comecei a beber o uísque. Aquele lago me fez
lembrar de quando eu e minha mãe acampávamos nas férias de verão, á noite
ficávamos horas sentadas à beira de um lago, ela contava histórias de fadas,
está lembrança me fez chorar. Fiquei sentada à beira do lago aos prantos,
lembrando de como era boa àquela época com minha mãe, quando me dei conta já
estava escurecendo e minha garrafa de uísque acabando. Deitei-me na grama e
fiquei observando as estrelas, como eu e minha mãe fazíamos, as lágrimas voltaram
a aparecer, eu sentia muita falta dela. Meus pensamentos foram tão longe no
passado que adormeci ali mesmo, deitada sobre a grama.
- Hei, acorda!
Você está bem? – Alguém falou, me levantando, demorei um pouco para conseguir
ver quem era, levei um susto ao ver quem me segurava em seu colo, era um garoto
que vi na escola, estudava na mesma turma que eu, era um dos mais inteligentes
respondia a todas as perguntas dos professores, era magro e com cabelos
compridos, estava com uma expressão de preocupação no rosto.
- Estou... bem.
– Gaguejei.
- Tem certeza?
Eu estava passando por aqui e vi você deitada no chão. Você é aluna nova não é?
Tem sorte por Bela Rosa ser uma cidade calma, sem violência, poderia ser muito
perigoso. – Enquanto ele falava, percebi que eu ainda estava com minha cabeça
apoiada em suas pernas. Tentei me levantar, mas não encontrei equilíbrio e caí.
- Droga! –
Falei furiosa caída no chão.
- Deixa que eu
te ajudo – Falou ele estendendo a mão para mim.
- Não quero ajuda
eu sei me levantar sozinha!
- Você bebeu de
mais, deixe eu te ajudar. – Ele falou apontando para a garrafa de uísque vazia ao
meu lado.
- Eu não quero
sua ajuda!
Consegui me
levantar me apoiando em uma árvore, peguei minha mochila, comecei a caminhar,
mas realmente eu tinha bebido de mais, tropecei nos meus próprios pés e quando
estava caindo senti duas mãos me segurando.
- Você é surdo?
Eu disse que não quero sua ajuda! – Falei irritada por não conseguir me
equilibrar, eu sabia que não iria conseguir voltar para casa, eu mal sabia o
caminho.
- Você é bem
teimosa. Vem eu te levo para casa e não precisa ficar com medo, não sou nenhum
psicopata. – Ele riu.
Fui caminhando
apoiada nele até seu carro, eu queria dizer mais uma vez que não queria ajuda,
mas seria tolice continuar insistindo. Ele abriu a porta do carro e me ajudou a
sentar, ele parecia bem satisfeito em me ajudar.
Ele começou a
dirigir, as ruas estavam silenciosas.
- Qual é o seu
endereço?
- Eu não sei. –
Eu realmente não sabia, acabará de me mudar e não sabia nem o nome da rua onde
morava.
- Assim vai
ficar difícil. Me diz algum ponto de referência.
Pensei por
alguns instantes.
- Minha casa é
uma branca com portão azul, próxima a uma oficina.
- Ah sei onde
fica, é a oficina do Harry o melhor mecânico da cidade, na verdade é o único
mecânico que tem aqui, mas ele é ótimo.
Fiquei aliviada
por ele saber, não queria ter que ligar para meu pai.
O carro dele
cheirava a hortelã, enquanto ele me levava para casa ficamos em silêncio, apenas
observando as ruas escuras e vazias. Eu queria perguntar por que ele resolveu
me ajudar, qual era o nome dele e o que ele estava fazendo àquela hora passando
por aquele lago, mas optei por ficar quieta e não perguntar nada, pelo menos
não naquele momento.
- Pronto
chegamos.
Lá estávamos
nós na frente da minha casa, peguei minha mochila, saí do carro sem me despedir
nem agradecer pela carona e fui em direção a minha casa.
- Ah meu nome é
Oliver. Foi um prazer.
Eu o ignorei,
continuei caminhando sem olhar para trás. Ele esperou até que eu entrasse em
casa e foi embora. As pessoas dali eram bem diferentes de Marvin, eu não estava
acostumada com tantas gentilezas, em Marvin as pessoas não se importavam umas
com as outras.
Pensei que meu
pai estaria na porta me esperando para brigar comigo pelo meu atraso, mas me
enganei. Fui até a garagem e seu táxi estava lá, então para ter certeza que ele
não estava na delegacia colocando a polícia atrás de mim, fui até seu quarto,
ele estava dormindo feito um bebe. Fui para meu quarto, cambaleado ainda, por
causa do uísque, fiquei sentada na cama pensando naquele garoto simpático que
me trouxe até em casa, os pensamentos foram inevitáveis.
- Triiimmmm. –
Tocou o despertador.
- Droga!
Maldito despertador! – Falei batendo no despertador.
Me acordei com
uma enorme dor de cabeça. Minha vontade era de ficar em casa e ficar dormindo o
dia todo, mas eu sabia que meu pai não deixaria, ainda mais depois da noite
passada. Quando estava descendo as escadas vi meu pai sentado no sofá, eu já
sabia o que estava por vim.
- Onde você
estava ontem o dia inteiro? – A voz dele era tão furiosa que me encolhi numa
reação inesperada.
- Eu estava
conhecendo a cidade. – Falei insegura.
- Não minta pra
mim Jéssica! Você bebeu não foi? – Ele aumentará o tom de voz na última frase.
- Não é da sua
conta! – Eu também aumentei o tom de voz.
- Eu sou seu
pai é da minha conta sim!
- Você nem se
preocupa em saber como estou, agora quer saber se bebi ou não, você nem se
importa com meus sentimentos!
- Eu me
preocupo com você, eu não quero que você saia por ai beber. Você é muito jovem,
sua mãe também não iria querer que você bebesse e você sabe disso!
Aquelas
palavras doíam e machucavam tanto quanto facadas. Não consegui falar mais nada,
sai e bati a porta com toda a força que encontrei. Eu não estava com a mínima
vontade de ir para a escola depois daquela discussão, queria comprar mais uma
garrafa de uísque e voltar para aquele lago, mas meu dinheiro havia acabado,
mas mesmo sem o uísque fui até o lago, como na véspera sentei à beira e meus
pensamentos foram longe, no passado mais uma vez e mais uma vez as lágrimas
começaram a cair. Eu sabia que meu pai tinha razão, minha mãe jamais aprovaria
que eu bebesse tão jovem, mas se ela estivesse viva tudo seria diferente, eu
precisava de alguém com quem conversar desabafar e pedir conselhos. Minha mãe
era minha melhor amiga e sem ela eu fiquei sem rumo, eu precisava dela.
Depois de um
tempo sentada à beira do lago, fiquei com fome e lembrei que estava sem comer
desde o café da manhã de ontem. Decidi voltar para casa, provavelmente meu pai
já havia saído para trabalhar, então eu não corria o risco de ter que discutir
com ele de novo. Cheguei em casa e como previ meu pai não estava mais lá.
Preparei um sanduíche, dei ração para Cristal, fui até a sala e coloquei um
filme qualquer para assistir, depois peguei Cristal no colo.
- Ai Cristal
que saudade da mamãe, você também deve estar com saudade dela né? – Comecei a
falar com Cristal, pelo menos acho que ela me entendia, o único problema era
que ela não me respondia.
- Lembra
Cristal de quando ela levava nós duas no parque? De quando ela nos contava
histórias? – Eu ainda tinha esperança de Cristal me responder. Fiquei
tagarelando com Cristal durante o filme.
Quando o filme
acabou fui para meu quarto e fiquei ouvindo música, acabei ficando com sono e
então dormi, muito mais cedo do que de costume. Quando me acordei de manhã,
encontrei um prato com um pedaço de bolo de chocolate e um copo de leite encima
da minha escrivaninha. Pedir desculpas não era típico do meu pai, mas aquele
pedaço de bolo e aquele copo de leite era a maneira dele pedir desculpas. Me
arrumei, comi o bolo e tomei o leite, fui para o ponto de ônibus cedo de mais e
então tive que ficar esperando por um longo tempo até que o ônibus chegasse,
quando entrei no ônibus mais uma vez todos os olhares se voltaram em minha
direção, naquele momento eu desejei poder ler pensamentos.
Cheguei na
escola e fui direto para a sala de aula. A garota tagarela que sentava ao meu
lado ainda não havia chegado, na verdade eu era a única dentro da sala. Depois
de alguns minutos sozinha, chegou o garoto que me levou para casa, Oliver,
desviei o olhar quando ele olhou para mim. Quando voltei o olhar para porta,
tomei um susto, ele estava parado ao meu lado.
- Você não me
disse seu nome. – Falou ele ao meu lado.
- Meu nome é
Jéssica. – Eu estava terminando de dizer meu nome e o sinal da escola tocou. Os
outros alunos começaram a chegar e um garoto ruivo e gordinho puxou Oliver
antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.
A garota que se
sentava ao meu lado foi uma das últimas a entrar na sala.
- A professora
pediu para te entregar, já que você não veio na aula ontem, é para estudar o
capítulo 13. – Falou ela me entregando um livro de química.
Peguei o livro,
ela ficou olhando pra mim, provavelmente esperando que eu a agradecesse, mas
nada falei então ela se virou com mau humor. A aula de matemática estava tão
chata que quase dormi. Quando tocou o sinal de que a aula acabou, suspirei
satisfeita. Resolvi não pegar o ônibus para ir para casa, eu precisava voltar
para aquele lago, aquele lugar me trazia lembranças de minha mãe e era um ótimo
lugar para ficar sozinha. Quando sai da escola, um carro parou do meu lado, por
um segundo pensei ser meu pai, mas quando olhei vi que era o mesmo carro que me
levou pra casa.
- Posso te dar
uma carona? - Falei comigo mesma o que será que aquele garoto queria comigo.
- Não. –
Respondi.
- Vamos você
sabe que não sou nenhum psicopata.
Eu estava
prestes a dizer não novamente, mas eu queria saber o que ele estava fazendo
naquela noite que passou naquele lago e porque se preocupou em me levar para
casa, então entrei no carro, alguns alunos que passavam por nós ficaram
olhando.
- E então, te
levo para casa de novo?
- Não vou ir
para casa, vou ir para o lago.
- Está bem
então. Levando mais uma garrafa de uísque?
- É dá sua
conta?!
- Nossa
mocinha, você não gostou mesmo de mim né?
Não respondi.
- Vou entender
isso com um sim. – Ele fez uma cara de triste ao falar isso.
- Me diz o que
você estava fazendo aquela noite tão tarde passando por aquele lago e porque se
preocupou em me ajudar e me levar para a casa? – Perguntei.
- Eu estava
indo na casa de minha tia e quando vi você jogada no chão, parei o carro e fui
correndo ver se você estava bem.
A resposta dele
parecia bem convincente, mas ainda faltavam perguntas.
- Mas porque me
ofereceu carona hoje? Eu acho que já deixei bem claro que não quero fazer
amizades!
Ele precisou de
um tempinho para responder.
- Eu gostei do
seu jeito, você é diferente de todas as garotas daqui, só achei que poderíamos
ser amigos, desculpa.
Me senti um
monstro, minhas palavras haviam magoado ele.
- Olha eu não
sou o tipo de pessoa que consegue ter amigos. – Tentei justificar meu
comportamento.
- Você já
tentou?
Parecia que ele
me conhecia a tempo.
- Acho que...
não. – Gaguejei.
- Então porque
não tentar agora?
Fiquei sem
resposta. Eu queria alguém para conversar, para me dar conselhos, pra me ajudar
quando eu precisasse, mas para mim a única pessoa capaz disso era minha mãe,
não conseguia pensar em mais ninguém que pudesse preencher o lugar dela como
amiga em minha vida.
Ficamos em silêncio
até chegarmos no lago.
- Posso ficar
aqui com você?
Pelo jeito ele
realmente queria minha amizade.
- Eu sei que se
eu disser que não você vai ficar do mesmo jeito.
- É você ta
certa – Ele falou sorrindo.
Ficamos
observando o lago, o sol que refletia na água era encantador.
- Você morava
aonde mesmo Jéssica?
- Em Marvin.
- E você venho
pra cá com seu pai e sua mãe?
Não consegui
responder de imediato.
-Minha mãe... Morreu – As palavras saíram
rasgando minha garganta. A expressão no
rosto dele mudou.
- Me desculpe,
eu não sabia me desculpe ter perguntado isso.
- Está tudo
bem. Eu nunca falei sobre isso com ninguém, mas acho que está na hora de eu
falar.
- Se não quiser
não precisa me falar nada.
Eu queria
falar, mas ao mesmo tempo não queria. Engoli em seco.
- Eu preciso
falar. – Respirei fundo antes de continuar. – Minha mãe morreu quando eu tinha nove
anos... ela era minha melhor amiga, eu não fazia nada antes de perguntar para
ela, ela me entendia, ao lado dela eu me sentia segura, quando ela morreu foi
como se tivessem arrancado meus braços e minhas pernas... Eu não consigo me
relacionar muito bem com as pessoas, eu sinto muito a falta dela, ás vezes me
lembro dos momentos em que passamos juntas e choro, me isolo do mundo... eu
gosto de beber, o álcool ameniza a dor da falta dela. – Comecei a chorar.
Oliver pegou em minha mão e eu o abracei. Nos braços dele me senti segura, como
eu me sentia quando estava nos braços de minha mãe.
Continuei –
Acho que meu pai quis se mudar pra cá porque Marvin trazia muitas lembranças de
minha mãe... desde quando cheguei aqui estou tentando fazer as coisas darem
certo, mas está muito difícil...
- A gente se
conhece há muito pouco tempo, mas quero que saiba que estou aqui para ser seu
amigo e estar do seu lado.
Eu ainda estava
abraçada nele, era tão bom aquele abraço que eu não queria mais sair dali.
- Obrigada...
amigo. – Finalmente consegui me soltar. Olhei para ele e ele estava sorrindo.
Depois de
tantos anos eu encontrei coragem de ser amiga de alguém. Eu me senti feliz ao
lado dele. Ficamos conversando durante horas, ele era muito engraçado e me
divertia. A tarde passou tão rápido que eu nem percebi.
- Nossa são 5
horas, quer que eu te leve pra casa agora?
- Nossa a tarde
passou rápido de mais. Claro se você quiser me levar. – Eu não queria abusar da
bondade dele.
- Vamos então.
No caminho até
minha casa liguei o rádio do carro dele, cantamos juntos Smells Like Teen
Spirit do Nirvana. Não demorou muito até chegarmos em minha casa.
- Muito
obrigado pela carona – Agradeci diferente da outra vez.
- De nada, até
amanhã na escola.
-Até.
Quando cheguei
em casa meu pai estava olhando TV.
- Onde você
estava Jéssica?
Eu estava de
tão bom humor, que respondi com a maior vontade:
- Eu saí com um
colega, às pessoas daqui são realmente muito simpáticas.
Ele pareceu
acreditar.
- Que bom que
está fazendo amizades. Comprei pizza pra gente, você a prepara?
- Claro.
Fui até a
cozinha e coloquei a pizza no forno.
Antes de dormir
não consegui parar de pensar naquela tarde com Oliver, foi muito divertido.
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