Capa do Livro

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Quem sou eu

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Parobé, Rio Grande do Sul, Brazil
Kah Sykes = Maio de 1995, tattoos, cheese, coca cola, friends, sex, Bring me the horizon, Asking Alexandria, Falling In Reverse, A Day To Remember, Sleeping With Sirens, Pierce The Veil...

"Nunca pensei muito em como morreria,

Mas acho que morrer no lugar de alguém que eu amo

Seria uma boa maneira de partir."

Bella Swan – Crepúsculo

quinta-feira, 14 de junho de 2012

3. Descobrindo um sentimento



Quando o despertador tocou, eu estava animada pela 1º vez para ir para a escola.
Me arrumei o mais rápido que pude, peguei uma maça na cozinha e fui para a parada do ônibus. Nem me importei com os olhares voltados para mim. Cheguei na escola e ele não estava lá, sentei em meu lugar, os alunos foram chegando, menos ele, me senti uma idiota por ficar tão impaciente, quando eu já estava perdendo as esperanças de que ele viria na aula, ele entrou na sala e foi direto em minha direção.
- Oi amiga. – A garota que sentava ao meu lado, ficou olhando, assustada quando ele parou ao meu lado e me deu oi.
- Oi amigo, como você tá? – Perguntei sorrindo para ele.
- Bem e você? – Ele também respondeu sorrindo.
- Também.
O professor de matemática chegou.
- Na hora do recreio se você quiser pode ficar comigo, com o Thomas, com a Ester e com o Lucas, são meus amigos, são meio doidos, mas acho que você vai gostar deles. – Ele falou apontando pra um grupo de três pessoas do outro lado da sala.
- Está bem.
- Oliver sente-se no seu lugar. – Ordenou o professor de matemática.
Oliver obedeceu imediatamente, aquele professor me dava medo, quando sentou em seu lugar olhou para mim sorrindo. Percebi que a garota ao meu lado ainda olhava para mim com curiosidade, tentando entender porque Oliver veio falar comigo. Como havia gritado com ela no primeiro dia de aula e não passei uma boa impressão resolvi me desculpar.
- Seu nome é Lua né? – Perguntei.
- Sim. – Ela respondeu tímida.
- Desculpa aquele dia eu ter gritado com você, eu não pretendia ser tão estúpida com você. – Ela ficou olhando para mim, parecia tentar decifrar alguma coisa.
- Tudo bem.
- Podemos ser amigas, o que acha?
- Claro podemos. – Ela sorriu. – Você morava aonde antes de vim pra cá?
- Em Marvin.
- Vocês duas ai, fiquem quietas. – Falou o professor de matemática apontando para nós.
- Ele é um chato né. – Falei sussurrando.    
- Sim he.he.he.he. – Ela riu baixo.
 Quando tocou o sinal para o recreio fiquei animada.
- Lua, você fica com quem na hora do recreio?
- Com ninguém, minha melhor amiga Joyce foi embora há algumas semanas.
- Então porque você não vem com a gente?
Ela olhou para trás de mim, Oliver estava vindo.
- Ola meninas.
- Ola. – Respondemos juntas.
- E então Lua vem com a gente? – Perguntei.
- Sim.  
- Então vamos logo porque o recreio é curto. – Falou Oliver empurrando nós duas. Nós rimos.   
Quando chegamos no refeitório olhei para a mesa onde estavam os amigos de Oliver, um ruivo gordinho devorava um bolo de chocolate e ao lado dele estavam uma garota loira, tão linda que parecia aquelas modelos de capa de revista, ao lado dela um garoto moreno a abraçava.
- Sentem meninas. – Falou Oliver que se sentou ao lado do ruivo comilão. Lua sentou-se ao lado de Oliver e eu ao lado dela.
- Oi aluna nova, prazer sou Ester. – Disse a loira para mim.
- Oi, sou Jéssica.
- Este daqui é meu namorado Lucas – Falou olhando para o moreno abraçado a ela.
- Ola Jéssica, o que está achando de Bela Rosa? – Perguntou Lucas.
- Estou gostando, todos aqui são bem simpáticos. – Respondi.
O gordinho ruivo que estava com um pedaço de bolo de chocolate acenou para mim.
- Ah aquele é o Thomas, acho que ele está com a boca cheia de mais para conseguir se apresentar. – Disse Oliver.
- Prazer Thomas. – Falei, ele ainda estava com a boca cheia de mais para conseguir me responder, então acenou com a mão que estava desocupada. Lua ficou quieta, parecia tímida de mais, diferente daquela garota tagarela que eu tive que mandar calar a boca no 1º dia de aula.
- Vocês já conhecem a Lua não é? – Perguntei para todos na mesa.
- Conhecemos ela da turma, mas ela nunca foi de muito papo. – Falou Ester. 
- É que sou tímida. – Disse Lua de cabeça baixa.
- Mas no primeiro dia de aula, você não me pareceu tímida, não parou de falar um minuto. – Ela deu de ombros e se encolheu.
- Você veio de Marvin então Jéssica? – Perguntou Ester.
- Sim.
- Como é lá?
- Não é uma cidade muito grande, é conhecida como a cidade das lanchonetes, você encontra lanchonetes em cada esquina, eu morava na frente de uma, acho que é por isso que meu pai é gordo. – Eu ri.
- Hum... Você falou em lanchonete e me deu uma fome. – Finalmente o gordinho ruivo falou. – Vou pegar mais um pedaço de bolo de chocolate.
- Você só pensa em comer seu gorducho – Disse Lucas.  
O gordinho mostrou a língua para ele e ele levantou e beliscou as bochechas dele.
- Seus crianções. – Disse Oliver.
Eu, Ester, Lua e Oliver começamos a rir quando Lucas começou a correr atrás de Thomas para pegar seu bolo de chocolate, o que não foi difícil, Thomas não conseguia correr muito, quando Lucas pegou o bolo da mão de Thomas, ele parecia que ia chorar.
- Devolve! – Reclamou Thomas.
- Você quer o meu pedaço de bolo? Eu não to com fome – Falei para ele, que sorriu.
- Quero, quero. – Ele parecia uma criança.
Peguei meu prato com um pedaço de bolo de chocolate e entreguei para ele.
- Obrigado. – Ele falou com a boca cheia.
- De nada. – Falei sorrindo para ele, que estava vidrado no bolo.
- Não falei que ele só pensa em comer, seu gorducho. – Falou Lucas.
- Eu também não estou com fome, pode pegar meu pedaço de bolo também. –Disse Lua.
Thomas se levantou e pegou o pedaço de bolo de Lua.
- Nossa Oliver, suas amigas são de mais. – Disse Thomas com a boca cheia de novo.
Oliver olhou para mim e sorriu.
Eu fiquei observando Lua, ela não parava de olhar para Thomas, que estava devorando seu pedaço de bolo, o olhar dela era de uma garotinha apaixonada, fiquei pensando se ela estava apaixonada por ele, por isso estava tão tímida, mas olhando aquele garoto ruivo e gorducho devorando aquele pedaço de bolo era meio difícil de imaginar que aquela garota meiga, que usava vestidos com laços estivesse apaixonada por ele.
Eu estava me divertindo com as palhaçadas de Lucas, quando tocou o sinal de que o recreio acabará. Todos nós ficamos infelizes.
- Mais uma aula de matemática com aquele professor chato, quando eu for diretor desta escola vou expulsar este professor daqui. – Zombou Lucas.
- Seu bobo. – Disse Ester e logo depois deu um beijo nele. 
- Vamos ir pra sala, vocês sabem como o professor Wilson gosta de castigar quem chega atrasado nas aulas dele. – Disse Oliver.
Nós nos levantamos e fomos para a sala de aula, os outros alunos ficaram olhando para nós, eu me senti estranha caminhando ao lado daquele grupo, eu me esquecerá de como era bom ter amigos.
As horas passaram rápido, eu e Lua fizemos um trabalho de matemática juntas, nós duas tínhamos dificuldades para resolver os cálculos. O último período passou rápido, como aquela manhã. Quando tocou o sinal de que a aula acabou, não senti necessidade de ir para o lago e ficar sozinha mais uma vez, eu queria ir para casa contar para Cristal sobre este dia na escola e das pessoas que conheci.
- Tchau Jéssica. – Disse Lua, entrando em uma caminhonete azul.
- Tchau Lua.
Thomas passou por mim apressado com Oliver ao seu lado. 
- Tchau Jéssica. – Disse Thomas.
- Tchau.
- Eu e o Thomas vamos ir numa pizzaria, você não quer ir com nós? – Disse Oliver, entendi o porquê Thomas estava tão apresado.
- Deixa pra outro dia.
- Que tal sábado? – Sugeriu ele.
- Hum... Combinado. – Concordei.
- Vamos Oliver to com fome. – Disse Thomas puxando Oliver pelo braço.
- Tchau Jéssica.
- Tchau Oliver. – Acenei.


Passaram-se três semanas. E todos os dias na escola eu ficava com Oliver, Lua, Thomas, Lucas e Ester na hora do recreio. Todos me divertiam muito. As brigas entre eu e meu pai diminuíram nestas três semanas.  As coisas estavam calmas de mais em casa, era de se estranhar. .
Um dia depois da escola cheguei em casa e meu pai não havia chegado do serviço ainda, peguei Cristal que estava dormindo no canto da escada e comecei a brincar com ela quando meu pai chegou.
- Oi pai. - Murmurei
- Jéssica, a dona de uma lanchonete ligou, ela falou que você pode começar a trabalhar amanhã.
Eu quase esqueci de que tinha deixado um currículo lá.
- Que ótimo pai. – Suspirei feliz.
- Calma ai mocinha, eu falei pra ela arranjar outra pessoa para trabalhar lá. – Falou ele autoritário.  
- Mas por quê? – Perguntei sem entender.
- Por que você não vai trabalhar lá e nem em lugar nenhum! Não vou deixar você trabalhar para estragar sua vida bebendo, se você precisar de alguma coisa eu compro! – Ele falou tão alto que qualquer um que passasse pela rua poderia escutar.
- Você não pode me obrigar a não trabalhar! –  Protestei.
- Posso sim sou seu pai! -
- Eu quero trabalhar. Você não vai me obrigar a não ir!
- Vou sim!
Subi as escadas correndo e bati a porta de meu quarto.
- Jéssica! – Meu pai gritou.
O ignorei, deitei em minha cama e comecei a chorar. Era incrível como as palavras de meu pai conseguiam me magoar tanto, naquele momento o que eu mais queria era ter minha mãe ao meu lado, contar para ela como fora meu dia na escola, falar como eram meus novos amigos e como eu ficava feliz quando estava ao lado de Oliver.
No silêncio do meu quarto, olhei para uma pequena mesa próxima a janela e me lembrei de que eu tinha um note book novinho, que ganhei de presente de aniversário de 15 anos do meu pai, eu o usei poucas vezes, não tinha muita paciência para redes sócias. Peguei o note book e comecei a ver fotos de minha mãe e eu. Era uma tortura ver aquelas fotos e me lembrar de como a vida parecia perfeita quando minha mãe estava viva, as lágrimas foram inevitáveis junto com as lembranças.
Eu estava certa de que precisava de uma única coisa para que meus pensamentos que me atormentavam cessassem. Comecei a revirar meu guarda-roupa na esperança de encontrar uma garrafa de vinho vazia ou um restinho de uísque. Encontrei uma garrafa de vinho enrolada em um roupão velho de banho, liguei o rádio, queria colocar o volume no máximo, mas sabia que isso atrairia meu pai, então deixei o volume num tom que só quem estivesse dentro do quarto pudesse ouvir. Comecei a beber o vinho, doce gosto familiar. Quando a garrafa de vinho acabou senti necessidade de beber mais, eu precisava de mais. Peguei minha carteira e encontrei apenas uma moeda de 50 centavos. Eu precisava tanto de mais uma garrafa de vinho que fui até o quarto de meu pai à procura de dinheiro, mas antes fui até a garagem verificar se o táxi estava lá, como imaginava ele já havia saído para trabalhar, revirei as gavetas de seu guarda-roupa e encontrei 50 reais e algumas notas de 10, peguei apenas os 50 reais fui até meu quarto, coloquei meu casaco preto, peguei minha mochila e saí.
Eu sabia muito bem onde eu queria ir, fui até o bar e comprei duas garrafas de vinho e uma carteira de cigarros depois fui até o lago. Comecei a beber o vinho e fumar os cigarros, eu estava com fome, mas naquele momento o vinho serviria como alimento para mim. Acabei pegando no sono, como na noite em que conheci Oliver, me acordei quando já era noite, coloquei a mão no bolso tentando encontrar meu celular, mas não encontrei, tentei me lembrar se tinha deixado em casa, mas não conseguia. Comecei a me sentir mal e enjoada, vomitei. Um vômito roxo. Comecei a caminhar, com falta de equilíbrio, eu ainda estava enjoada e não conseguia me equilibrar muito bem, a escuridão da noite não ajudava nada para eu enxergar meu caminho, meus passos eram desajeitados, quando fui atravessar a rua, só consegui enxergar um feche de luz muito próximo, logo depois um apagão. 

Quando abri os olhos, estava numa cama de hospital. Meu pai estava dormindo em um sofá ao meu lado e em duas cadeiras mais distantes visualizei Oliver e Thomas sentados, Oliver lia um livro enquanto Thomas devorava um pacote de Doritos.
Tentei me levantar, mas minhas pernas doíam e meu braço esquerdo estava enfaixado.
- O que aconteceu? – Perguntei com a voz fraca.
Oliver levantou da cadeira e chegou perto de mim.
- Você foi atropelada ontem à noite. – Disse-me  ele.
Fiquei tentando me lembrar do que tinha acontecido, mas minha memória era fraca de mais.
- Há quanto tempo vocês estão aqui?
- Eu e Thomas viemos para cá logo depois da aula.
- E como você soube que eu estava aqui?
- Você foi atropelada bem em frente a minha casa. Fui eu quem foi até sua casa avisar seu pai.
- Ah quanto tempo ele está dormindo? – Perguntei olhando para meu pai, dormindo desajeitado no sofá.
- Ele pegou no sono faz pouco tempo. Quer me contar o que aconteceu? 
- Agora não. – Sussurrei. 
- Quer que eu acorde seu pai?
- Não, ele deve estar bem cansado e também não estou ansiosa para ouvir os sermões dele. O que eu quero mesmo é sair desta cama. – Falei tentando me levantar da cama de novo.
- Mocinha fique quieta ai, você foi atropelada.
- Está bem Doutor Oliver. – Tentei ser irônica. 
- Jéssica minha filha, você está bem? – Meu pai acordou assustado.
- Estou pai, sobrevivi. – Falei, esperando uma bronca.
- Jéssica ainda bem que você está bem, fiquei tão preocupado. – Ele disse me abraçando com cuidado. Nunca virá ele tão afetuoso comigo.
- Está bem pai, pode me soltar estou bem. – Murmurei. 
- Desculpe Jéssica.
- Pelo que?
- Por ser um pai tão irresponsável.
Engoli em seco, eu sabia que meu pai não era irresponsável, ele era só pai e eu acho que de certa forma eu o culpava pela morte de minha mãe.
- Você não é um pai irresponsável pai, você é só pai e está fazendo seu trabalho.
Ele me abraçou de novo, por um longo tempo ficamos abraçados, o abraço dele fazia meus ferimentos doerem, mas agüentei a dor para não magoá-lo. Quando ele decidiu me soltar, olhei em volta do quarto e Oliver e Thomas não estavam mais lá.
- Eu preciso trabalhar você vai ficar bem aqui sozinha?
- Sim pai pode ir.
Neste momento Oliver e Thomas entraram no quarto, Thomas ainda devorava um pacote de Doritos.
- Ah acho que estes dois podem ficar aqui com você. – Meu pai falou olhando para Oliver e Thomas.
- Não precisa, eu vou ficar bem sozinha, aliás, estou em um hospital, qualquer coisa chamo alguém.
- Imagina Jéssica eu e Thomas podemos ficar aqui com você.
- Eu preciso ir pra casa, minha mãe vai fazer pudim hoje. – Reclamou o gorducho do Thomas, chupando os dedos sujos de Doritos.
- Eu fico aqui com você. – Insistiu Oliver.
- Tchau Jéssica, qualquer coisa liga pra mim. – Meu pai falou saindo do quarto.
- Vou nessa. – Thomas saiu logo atrás de meu pai.
- Tem certeza de que quer ficar? Eu costumo ser chata quando estou numa cama de hospital.
- Eu agüento. Mas então quer me contar o que aconteceu, estou realmente querendo saber.
- Eu briguei com meu pai, bebi muito vinho e acabei dormindo mais uma vez à beira do lago, só que desta vez você não apareceu pra me levar pra casa, então tentei ir, mas mal conseguia manter o equilíbrio só lembro de estar atravessando a rua e ver uma luz forte em minha direção e depois acordei aqui.
- Você podia ter morrido Jéssica. – As palavras dele me fizeram estremecer.
- Talvez fosse melhor se eu tivesse morrido. -
- Porque está dizendo isso?
- Eu perdi a vontade de viver quando minha mãe morreu.
- Eu sei que deve ter sido horrível perder sua mãe, mas eu aposto que onde ela estiver agora ela vai te proteger.
- Ela morreu como vai me proteger? – Minha pergunta era retórica, mas mesmo assim ele respondeu.
- O espírito dela vai. – Afirmou ele.
- Ah, por favor, não venha me falar sobre espírito, Deus, céu e inferno, isso não existe! – Protestei num tom de voz alto, mas logo depois me arrependi, Oliver não merecia que eu falasse daquele jeito com ele.
- Me desculpa, só tava querendo fazer você se sentir melhor. – Falou arrependido.
- Eu que peço desculpas, não deveria falar assim com você. – Sussurrei.   
- Tudo bem. Mas me diz por que você não acredita em Deus? – Perguntou ele.
- Porque eu tenho meus motivos. – Respondi.
- Eu entendo você. Se quiser que eu vá embora eu vou. – murmurou.
Fiquei em silêncio, eu não queria que ele fosse embora, a companhia dele era ótima e eu gostava de estar com ele.
- Não. Eu quero que você fique gosto da sua companhia.
- Que bom ouvir isso.
O cheiro do hospital e a comida que me deram para comer, me enjoava, mas a companhia de Oliver me fazia querer ficar mais tempo ali, só para pode ficar ao seu lado. O dia passou rápido, eu e Oliver jogamos cartas, contamos piadas e histórias, apesar de eu estar deitada naquela cama de hospital, com o braço quebrado e o corpo cheio de aranhões aquele estava sendo um dos melhores dias da minha vida.
- Já são 8 horas, daqui a pouco seu pai deve estar chegando. Eu tenho que ir pra casa se não minha mãe vai ficar preocupada comigo. Boa noite. – Falou ele me dando um beijo na testa.
- Boa noite, tome cuidado ao ir para casa. – Fiquei olhando ele se afastar e ir embora.
Não demorou muito tempo para meu pai chegar, insisti para que ele fosse dormir em casa, mas ele era teimoso igual a mim e dormiu mais uma vez no sofá ao meu lado. Eu não conseguia dormir, fiquei pensando em Oliver, em como eu me sentia feliz ao seu lado, senti muita vontade de estar com ele de novo. Eu sabia que eu estava sentindo algo extremamente forte por Oliver e que eu não queria sentir aquilo. Minha filosofia de vida “Se você ama você sofre.” E eu não queria sofrer mais uma vez.

Eu e Oliver caminhávamos à beira do lago de mãos dadas. Minha mãe nos esperava encostada em uma árvore, ela estava com um vestido de noiva, todo sujo. Quando mais perto de minha mãe eu e Oliver tentávamos chegar mais longe ela parecia estar. De repente aquele cenário mudou, minha mãe e Oliver sumiram como se fossem fumaça, eu estava sozinha à beira do lago, minhas mãos estavam cobertas de sangue, fui lavá-las no lago e minha mãe e Oliver estavam lá dentro, se afogando, eu tentava salvá-los, mas era como se a água do lago estivesse congelada. Acordei assustada. – minhas pálpebras se arregalando, meu braço doía, devo ter batido durante a noite.
Foi só um sonho, disse a mim mesma. Olhei para o lado meu pai cochilava no sofá. Fiquei olhando para o teto branco do hospital, me senti angustiada de estar ali. Até meu quarto todo bagunçado era melhor do que aquele quarto de hospital. Uma enfermeira entrou no quarto.
- Precisa de alguma coisa? – Perguntou ela.
- Preciso ir embora. – Murmurei.
- Eu acho que você já pode ir embora hoje, vou chamar o doutor David. -
Suspirei aliviada.
- Dormiu bem Jéssica? – Meu pai acordou.
- Sim pai. – Menti.
- Está com fome? – Perguntou.
- Sim – Assenti.
- Vou ir buscar algo para nós comer. Já volto. – Assenti mais uma vez.
Alguns minutos depois que meu pai saiu o doutor David chegou.
- Como está se sentindo Jéssica? – Perguntou examinando meu braço enfaixado.
- Bem. – Não queria falar que meu braço estava doendo, quanto mais rápido eu saísse daquele hospital, melhor.
- Você já pode ir para casa hoje. Só vai ter que tomar muito cuidado com este braço. Onde está seu pai?
- Foi comprar alguma coisa para comer. – Meu pai apareceu na porta.
- Estávamos falando do senhor. A Jéssica pode ir para casa hoje. O senhor pode me acompanhar por gentileza.
- Claro. – Meu pai respondeu me entregando um copo de café e um pastel.
Os dois saíram do quarto. Levantei da cama com dificuldade, meus ferimentos incomodavam. Tentei me vestir apenas com uma mão. Mas não consegui, o braço quebrado doía muito quando tentava meche-lo. Por sorte a enfermeira chegou bem a tempo de me ajudar. Fiquei constrangida de alguém estar ajudando a me vestir. Sentei na cama e comi o pastel e tomei o café.
Fui para casa no táxi do meu pai.  Eu queria ir à escola, ver Oliver e meus novos amigos, mas eu sabia que meu pai não deixaria e também meu braço direito estava quebrado, justo o braço que eu usava para escrever, minha letra já não era muito bonita, escrevendo com a mão esquerda minha letra ficaria ilegível. Antes de irmos para casa meu pai parou numa farmácia e comprou alguns comprimidos para mim.
Senti um alivio instantâneo ao chegar em casa. Eu odiava o cheiro de hospital.
Subi para meu quarto me apoiando com a mão que estava boa no corrimão da escada. Deitei em minha cama. Familiar cheiro de bagunça. Engoli um analgésico e adormeci. Quando me acordei já estava escuro. Levantei da cama meio sonolenta e desci as escadas me apoiando novamente no corrimão com a mão boa. Quando entrei na sala tive uma enorme surpresa, Oliver estava sentado no sofá, ao lado de meu pai.
- Até que enfim acordou dorminhoca. – Oliver disse sarcástico.
- Dormir numa cama de hospital não é muito agradável. O que você está fazendo aqui? – Perguntei.
Meu pai olhou para mim e logo em seguida para Oliver, entendi aquele olhar como um aviso, logo em seguida levantou e foi para a cozinha.
- Vim ver como você está. – Oliver respondeu.
- Estou bem, só o braço quebrado está me incomodando um pouco.
- Na verdade vim ver como você está e vim cobrar uma ida a pizzaria.
- Caramba, esqueci totalmente que a gente tinha combinado de ir à pizzaria.
- Posso vim te pegar amanhã de noite?     
- Pode. –  Concordei olhando em direção a cozinha para me certificar que meu pai não iria interferir na minha resposta.
- Então está combinado, às 19h30min esteja pronta.
- Vou estar pronta e com o braço enfaixado. – Sorri.
Oliver sorriu e levantou do sofá logo em seguida.
 - Até amanhã. – Falou ele indo em direção à porta.
- Espera, eu te levo até a porta. – murmurei.
Enquanto caminhávamos até a porta meu pai surgiu da porta da cozinha e ficou nos observando.
- Boa noite Oliver.
- Boa noite Jéssica.
Eu parecia uma boba, apaixonada olhando Oliver se afastar e entrar em seu carro. Fiquei tão distraída imóvel na porta que tomei um susto quando meu pai surgiu atrás de mim.
- Então Jéssica vocês estão namorando?
Engoli em seco.
- Não... é claro que não pai, somos só amigos. – Gaguejei.
- Ele parece gostar de você. Se preocupa muito em saber se você está bem. – grunhiu ele.
- Para de falar bobagem pai. Vou ir para meu quarto. – Suspirei.
- Ele parece ser um ótimo garoto Jéssica. –Eu sabia que meu pai não desistiria.
- Somos só amigos pai. – Protestei.
- Conversei com ele antes e parece que ele não quer só sua amizade.
- Vou ir para meu quarto. Ah pai Oliver vai vim me buscar amanhã para irmos numa pizzaria. – Eu nem precisaria pedir permissão de meu pai para sair com Oliver, pelo jeito ele gostou mais dele do que eu.
- Está bem. Olha Jéssica ele parece ser um menino muito bom, mas se ele tentar alguma coisa leve seu spray de pimenta...    
- Já entendi pai. – O interronpi. Subi para meu quarto. Eu não estava nem um pouco com sono. Fiquei pensando na pergunta que meu pai me fez “...Vocês estão namorando?”, eu sabia que meu sentimento por Oliver estava indo além da amizade. Ele se preocupava comigo, sempre queria saber se eu estava bem, com ele eu conseguia conversar abertamente, me sentia segura, eu confiava nele. Oliver era o único que me fazia sentir feliz, como minha mãe fazia. Eu estava ansiosa para que o amanhã chegasse.



Eu não tinha nada para vestir. Só os mesmos moletons e as mesmas calças jeans velhas. Era só uma ida a pizzaria, mas eu queria me vestir bem. Oliver sempre estava bem vestido e cheiroso, era até constrangedor eu ao lado dele, com minhas roupas velhas e meu cabelo bagunçado e agora com um braço enfaixado. Entrei em desespero revirando meu guarda-roupa com a mão boa, procurando algo para vestir. Acabei colocando uma calça jeans qualquer, uma camiseta do Nirvana e meu all star sujo, penteei meu cabelo e fiquei esperando impaciente Oliver, não eram nem 19h e 15 min quando ouvi alguém bater na porta. Olhei para Oliver, seu cabelo comprido até a nuca, bem penteado, seus olhos verdes brilhavam, eu queria ver qual roupa ele vestia, mas não conseguia desviar o olhar de seus olhos.
- Está pronta? Cheguei um pouco mais cedo.
- Estou. Eu estava prevendo que você viria mais cedo e também me arrumei mais cedo. – Ele olhou para minha roupa.
- Gostei da camiseta. – Nós rimos.
Oliver era mesmo muito gentil, um legitimo cavalheiro, abriu a porta do carro para mim. No caminho para a pizzaria Oliver começou a me contar coisas sobre ele, já que toda vez que nos encontrávamos só quem falava sobre sua vida era eu. Contou que seu pai era um policial aposentado e que sua mãe era a melhor costureira da cidade. Ficamos conversando durante todo o percurso. Quando eu estava com Oliver o tempo parecia passar mais rápido. Quando chegamos à pizzaria Oliver manteve o cavalheirismo e abriu a porta do carro para eu sair. A pizzaria estava cheia. Sentamos num canto perto da janela.
- Vamos pedir pizza do que? – Perguntou Oliver olhando o cardápio.
- Meia 4 queijos e meia calabresa pode ser?
- Claro, são meus sabores de pizza preferidos.
- Os meus também. – Rimos juntos.
Oliver chamou o garçom e fez o pedido. Não demorou muito até para a pizza chegar.    
- A pizza daqui é muito boa. – Falei com a boca cheia, o que me fez lembrar de Thomas.
- É mesmo. – concordou ele – Jéssica eu quero te falar uma coisa.
Olhei para ele assustada. – Pode falar. –
- Bom, nem sei direito como dizer isso... Desde o dia em que conheci você, à beira daquele lago, dormindo no chão eu sabia que queria ser seu amigo, você é diferente de todas as garotas que já conheci. Você não se ilude com as coisas, é sincera e ao mesmo tempo em que você é uma garota impaciente, que não quer amigos, você é uma garota meiga que senti falta de sua mãe... – Eu não sabia aonde ele queria chegar. – Cada vez mais que eu ia te conhecendo eu ia me sentindo extremamente ligado a você. Sabe aquela coisa de destino? Então é... acho que isso se encaixa na nossa história. Jéssica eu to apaixonado por você. – Fiquei em estado de choque, não conseguia achar palavras, as palavras certas.
- Eu... Não sei o que dizer. - Gaguejei. 
- Olha vamos comer primeiro e depois procuramos um lugar mais calmo para conversar. –Eu assenti .
Enquanto eu comia, não conseguia parar de pensar nas palavras de Oliver, ele estava apaixonado por mim? Era difícil de acreditar que alguém pudesse se apaixonar por mim. Eu também estava loucamente apaixonada por ele. Mas não sabia até onde eu poderia ir. Fiquei tão distraída em meus pensamentos que esqueci da pizza.
- Você vai comer mais? – Oliver perguntou para mim olhando para meu prato, com um pedaço de pizza intacto.
- Não. – Respondi.
- Então vamos?
Me levantei e seguimos para o carro.
- Aonde você quer ir? - Perguntei enquanto ele segurava a porta do carro para eu entrar.
- Naquele lago. – Seguimos para o lago em silêncio.
Sentamos a beira do lago. Meu coração e minha respiração estavam acelerados, eu podia ouvir meus batimentos. Fiquei ali sentada ao lado dele esperando que ele começasse a falar. Por um longo tempo ficamos em silêncio, observando o lago que reluzia a luz da lua. Acho que Oliver procurava as palavras em sua mente para me dizer. 
- Então, como eu disse antes estou apaixonado por você Jéssica. Eu sinto que não posso mais ficar longe de você.
O silêncio voltou a invadir o ambiente. Ele esperava que eu falasse alguma coisa, mas eu não sabia o que falar.
- Eu devo estar assustando você... Me desculpe, eu só achava que deveria dizer o que estou sentindo. – Falou sussurrando.
Finalmente consegui falar.
- Eu... Acho que também to... apaixo... nada por você. – Gaguejei, não sabia o jeito certo de dizer aquilo.  
Ele pegou meu rosto com as mãos, olhou em meus olhos e foi se aproximando. Quando me dei conta nossos lábios estavam se tocando, os movimentos de nossos lábios encostados um no outro pareciam ter sido ensaiados, os braços dele envolvidos em minha cintura, nossos corpos colados, meu coração parecia que ia explodir a qualquer momento. Demorei a lembrar de que eu precisava respirar. Precisei soltar meus lábios dos dele, estava sem fôlego. Depois de uma pequena pausa nossos lábios voltaram a se tocar. Eu estava tão feliz nos braços dele que não queria que aquele momento nunca acabasse. O céu estava lindamente estrelado, no lago o reflexo da lua cheia. Caminhamos de mãos dadas em volta do lago – Como no meu sonho - era só eu, ele, o lago e a lua, eu podia estar sonhando, tudo àquilo era tão perfeito, como em contos de fadas e não era um sonho, pelos menos eu estava torcendo para que não fosse. Eu queria ficar ali do lado dele para sempre, ou sendo menos dramática, durante o resto da noite.
Às horas passaram tão rápido, já era passada da meia noite, estranho meu pai não ter me ligado preocupado, ainda mais depois do acidente. Oliver me levou para casa no seu carro. Quando chegamos à frente de minha casa, ele me acompanhou até porta e demos um beijo de despedida, como numa cena de filme romântico. Entrei em casa e fiquei olhando ele ir embora. Meu pai já estava dormindo. Subi para meu quarto, estava tão distraída que tropecei no tapete e caí, caí em cima do meu braço quebrado.
- Aiii! – A dor foi tanta que não consegui segurar o grito.
- O que aconteceu Jéssica? – Meu pai apareceu na porta do quarto, meu grito o acordará.
- Eu tropecei e caí encima do braço quebrado. – Gemi caída no chão.
Meu pai ajudou a me levantar. Fiquei constrangida com aquela situação.
- Está doendo muito? – Perguntou meu pai.
- Um pouco. – Menti, a dor estava evidente em minha voz.
- Vou pegar seu remédio na cozinha.
- Está bem.
Ele desceu as escadas até a cozinha. Fiquei sentada em minha cama. Eu sentia a pulsação de meu braço que doía.
    

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